07/12/2020
Ao contrário de outras técnicas, o Transplante Capilar FUE não deixa nenhuma cicatriz linear, permitindo que o paciente possa escolher qualquer corte de cabelo sem que o resultado seja comprometido. Outra vantagem da técnica FUE é a recuperação rápida. O procedimento é realizado com anestesia local, e o paciente pode retomar suas atividades no dia seguinte, seguindo todas as recomendações da equipe. A cicatrização total do procedimento leva em média 15 dias. Tire todas as dúvidas sobre o tema acompanhando a entrevista que apresentamos a seguir.
Caroline Pierosan: O que é o método FUE?
Marina Rombaldi: É o método de transplante capilar mais atual. O transplante capilar surgiu há bastante tempo, e as técnicas foram sendo aprimoradas. No método FUE fazemos a extração das unidades foliculares, uma a uma, bem como a sua implantação, também, uma a uma. É um método que não deixa cicatriz linear porque as unidades foliculares são individualmente extraídas das áreas doadoras (são áreas onde não temos alteração genética). Coletamos fios de cabelo saudáveis das áreas na lateral e da parte posterior do couro cabeludo. Retiramos então unidade a unidade para fazermos implantação na área calva, que normalmente é a região frontal e de coroa, bem como a área medial da cabeça do paciente. Ali fazemos a implantação das unidades, individualmente. Esse método é muito diferente do método antigo (o FUT), no qual a extração era feita juntamente com uma faixa do couro cabeludo. Essa é a principal diferença entre os dois métodos.
O FUE então é um método bem mais sutil?
Com certeza! É um método que exige bastante habilidade da equipe que faz o procedimento, porque as unidades são tiradas uma a uma e são colocadas uma a uma também. É um procedimento extremamente artesanal, e demanda bastante perícia, pois nosso objetivo é não termos perda de folículos durante a extração e nem durante a sua colocação. A grande vantagem é a ausência de cicatriz (resultado colateral normal na realização do método FUT) o que confere o aspecto muito natural do procedimento.
Os cabelos que caem, são geneticamente diferentes dos cabelos que não caem?
Esse processo gradativo e contínuo da instauração da calvície é chamado de alopecia androgenética. Em algum momento da vida do paciente o processo começa a se desenvolver, sendo sim, uma herança familiar. Durante esse processo, normalmente os cabelos vão ficando miniaturizados e cada vez mais finos, até que, com o passar do tempo (geralmente alguns anos), os cabelos acabam não nascendo mais, resultando em áreas de maior atrofia no couro cabeludo (onde não encontramos mais nenhum fio de cabelo), que são as áreas nas quais faremos o transplante capilar. Esse processo de calvície leva alguns anos. Quando os fios começarem a ficar menores e mais finos, é o momento ideal de o paciente “acender o alerta” e verificar se a sua doença genética não entrou em curso. Até porque o processo pode ser reversível na fase inicial. Mas em fases já mais adiantadas o transplante capilar é a opção que temos para devolver esse cabelo e o aspecto de naturalidade ao paciente.
Quando ouvimos a palavra “transplante” logo lembramos do transplante de órgãos, em que uma pessoa pode doar para a outra. Mas não é assim com os cabelos?
O nosso cabelo acaba levando a carga genética do nosso organismo. Então por ser um procedimento estético, mas que envolve a saúde do organismo como um todo, hoje, ainda não realizamos transplante de cabelos de doadores externos; talvez no futuro venhamos a fazer. Hoje não seria uma prática que oferece um bom custo / benefício, porque o paciente, para fazer um transplante capilar com fios de outra pessoa, precisaria fazer todo o processo de imunossupressão, pois de fato, está recebendo um órgão alheio. O custo desse tratamento é muito elevado para ser aplicado ao transplante capilar. Também não temos estudos suficientes que comprovem se essa prática seria realmente eficaz. O couro cabeludo é um órgão e os fios (e unidades foliculares) também são considerados órgãos.
Há alguma alternativa sintética?
Sim. Há fios sintéticos. Eles são uma opção para quem não possui área doadora suficiente, porém o custo desse material é muito elevado e o índice de rejeição é maior do que a metade dos implantados, ou seja, mais da metade de fios que forem implantados não permanecerão. Os fios sintéticos (embora venham sem DNA) são corpos estranhos que o organismo pode e tende a rejeitar.
Existem pacientes completamente calvos?
Por razões genéticas, não. Por causa de outros tipos de doença, até pode ocorrer.
O método FUE pode ser aplicado para outras áreas além do couro cabeludo?
Sim. Pode ser aplicado para sobrancelhas e barba.
Para quem o método FUE para transplante de sobrancelhas é indicado? E qual a vantagem desse procedimento se compararmos com a micropigmentação?
Quando fazemos o transplante de sobrancelhas, procuramos consertar falhas na região, ou realizá-lo e em pacientes que têm sobrancelhas muitos finas, ou micropigmentadas (com nada de pelos). Homens também nos procuram para transplantar sobrancelhas. Qualquer pessoa que tenha algum tipo de falha ou que se incomode por não ter pelos na sobrancelha pode fazer o transplante. Muitas vezes realizamos o método FUE para sobrancelhas sobre áreas micropigmentadas, pois a área micropigmentada continua sendo uma “imagem 2D”, enquanto o pelo oferece um efeito 3D. Essa é a grande vantagem em relação à micropigmentação. O transplante de sobrancelhas é um processo definitivo. Já a micropigmentação tem prazos de validade (normalmente depois de um ou dois anos é necessário fazer novamente). A micropigmentação vai desbotando, enquanto o pelo transplantado é vitalício. Mas nós indicamos muito a micropigmentação. Os dois métodos podem ser aliados.
E quanto ao transplante de barba? Os critérios são os mesmos do transplante capilar?
Nesse caso nós procuramos usar a área doadora da própria barba, então, normalmente extraímos os fios da região do pescoço dos pacientes para implantar no rosto. Para quem quer fazer uma reconstrução completa da barba, muitas vezes, nós também usamos fios do cabelo, pois o paciente não teria fios de barba o suficiente para suprir. A anestesia é local e o processo é idêntico ao do transplante capilar. Costumamos utilizar parte dos fios extraídos da barba e parte dos fios extraídos do couro cabeludo. Há pacientes que fazem transplante capilar e de barba. Então realizamos os diferentes procedimentos em sessões separadas porque o transplante de barba é um processo bem longo, por se tratar do rosto, e de ser uma área delicada. Mas tudo depende da área a ser implantada. O resultado é muito natural e os fios não caem novamente.
Os fios voltam a nascer nas áreas de onde foram retirados para o transplante?
Não. Não nascem mais. Pois são retirados com a raiz. Para quem faz transplante de barba é isso é muito bom, pois, posteriormente não é preciso mais fazer a barba nessas áreas de onde os fios foram retirados.
O transplante de barba é tão popular quanto o transplante capilar?
Ainda não é tão popular. Temos mais procura de mulheres, pelo transplante de sobrancelha. Pacientes homens que optam por barba e cabelo normalmente preferem fazer o cabelo primeiro, ou seja, essa ainda é a prioridade.
Se a pessoa percebe a calvície precocemente ela pode fazer tratamentos?
Há uma enzima que faz conversão de testosterona em di-hidrotestosterona, mais conhecido como DHT. É esse hormônio que vai transformar o cabelo saudável em um cabelo “doente”. Conforme falamos isso ocorre devido a herança genética e pode ocorrer a partir dos 20 anos. A idade não influencia determinantemente o nível de calvície, ou seja, a calvície não progride, necessariamente, com a idade e sim devido à herança genética. Muitas vezes temos pacientes com 45 anos com menos calvície do que pacientes com 25 anos.
O que o paciente pode fazer para evitar precisar de um transplante?
É possível frear a progressão da calvície. Quando ela começa conseguimos evitar o ciclo crônico da transformação de testosterona em DHT com tratamentos. São tratamentos realizados em clínica e em casa. Há medicações que o paciente toma (via oral) e, em clínica, há medicações injetáveis que aplicamos no couro cabeludo. O tratamento injetável, realizado em clinica, é mais efetivo do que o via oral porque estamos injetando a medicação diretamente no fio, na raiz do problema. A resposta tende a ser mais rápida. Mas sempre orientamos também o tratamento em casa porque o processo é crônico. Vamos indicar shampoos e loções para também ajudar a manter a saúde do couro cabeludo, o que vai contribuir para estabilizar a calvície. Temos pacientes jovens hoje, que ainda têm muito cabelo, mas que têm um histórico familiar de calvície bem agressivo e extenso. Eles nos procuram para tratar e frear a progressão, evitando a necessidade de fazer um procedimento FUE, futuramente.
Se o paciente fizer o tratamento com constância ele pode vir a não precisar do transplante?
Exatamente. A gente consegue bloquear o ciclo. Quanto mais jovem o paciente maior a tendência à evolução. Sempre explico que o tratamento é contínuo.
O que é mais recomendado? Transplante ou tratamento?
Quanto mais deixamos o couro cabeludo atrofiar, menor será a circulação sanguínea no local. Quanto mais cabelos perdemos menos saudável o couro cabeludo fica. Pensando nisso, quanto antes o paciente começar o tratamento para evitar a progressão da calvície, melhor. Se isso ajudar a evitar o transplante, melhor ainda. Entretanto, ressalto, o transplante é uma ótima opção (e muito segura) para quem não teve conhecimento dessa possibilidade de tratamentos, e já tem a calvície em um estágio avançado. As duas opções valem muito a pena pois os ganhos em saúde e autoestima são imensuráveis.
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